É comum à esquerda falar-se de "dignidade no trabalho" e essa costuma ser a justificação para muito regulação, preços administrativos, salários mínimos e rendimentos sociais de inserção.
Mas, quanto este último, onde está a dignidade do mesmo? Onde está a dignidade em viver de "esmola alheia", mesmo que essa esmola seja "institucionalizada"?
O ser humano é um ser muito curioso. É capaz dos maiores feitos [e dos maiores crimes] apenas com base no seu espírito. A força de caminhar para a frente, contra tudo o que se lhe opõe, não interessando qual é a adversidade a enfrentar é, e sempre foi ao longo de milénios, a principal caracteristica do ser humano.
Mas uma vez quebrado esse espírito, esse orgulho, essa dignidade, o ser humano é capaz das maiores inércias imaginaveis. Qual é o meu ponto? Rendimento Social de Inserção. "É uma política pública necessária", dirão alguns. Mas quais os efeitos perversos? E não me estou só a referir ao efeito normal referido pelos economistas - o RSI introduz uma "conta": para trabalhar, tenho que ter como ordenado um valor x (igual ao RSI) mais um prémio para sair de casa.
Quem é que, uma vez ligada à "maquina da segurança social" não tem vergonha desse facto? Quem é que diz com orgulho "Eu não trabalho porque, felizmente, estou a ganhar o RSI"? Podem ficar no café o dia todo, é verdade. Sem nada fazer, sem nada procurar... é esta a inércia que me referia acima. Mas porquê?
Porque é que um sem abrigo cria uma "inércia" quase natural que resvala a indiferença para a sua própria situação? Porque perdeu a sua dignidade, o seu orgulho, no minuto em que foi pedir a primeira esmola. E depois, acomodou-se. E ai ficará, sem chama nem espírito. E esse é o efeito que o nosso actual sistema cria: retira às pessoas o seu ritmo e, ao leva-las a ir à segurança social, retira-lhes a sua dignidade e mata-lhes o espírito.
"Queres deixa-los sozinhos então, Guilherme?", comentaram alguns. Não, quero ajuda-los, mas sem lhes esmagar o espírito. Quero que trabalhem, seja a que preço o mercado de trabalho equilibrar. É que, trabalho dá uma força de espirito imensa. Poder dizer "eu faço algo, eu agora dependo das minhas capacidades e do meu esforço" é algo que, psicológicamente, não tem rival.
O salário minimo preça pessoas para fora do mercado, e essas pessoas são forçadas a prescindir da sua dignidade e ir à Segurança Social pedir uma "esmola institucional". Isto é errado! Cria uma força muito forte na mente das pessoas: a vergonha e a quebra do orgulho! Nada podia ser mais perverso.
Façamos, como tentei dizer no post anterior (Exercicio "E, se..."), a coisa ao contrário: deixemos o mercado de trabalho equilibrar onde equilibrar. E deixe-se as pessoas trabalharem por esse "preço", e declararem esse "preço". E aqui, sim, compense-se este "baixo preço" com um crédito fiscal, para um valor que é considerado um minimo socialmente aceite. Qual é a diferença? A pessoa trabalha, tem essa satisfação e orgulho.
Não está simplesmente a receber um vale em casa, e não menosprezem o poder psicológico desta pequena diferença: por muito que se diga "Ah, trabalho, não gosto disso", no fundo, todos nós o queremos: ter uma função, um lugar, a satisfação de participar-mos na ordem natural das coisas e algum orgulho e dignidade, que nos dão força para seguir em frente!
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