Espero que hoje seja o primeiro dia do resto do futuro do nosso País. Se falar em juventude é, necessariamente, sinónimo de esperança, então, espero e desejo que essa não seja uma esperança qualquer, não seja, acima de tudo, uma esperança frustrada, uma esperança falhada.
Estamos a poucos dias de comemorarmos os 35 anos do 25 de Abril de 1974. Aniversário simbólico e merecedor de comemorações. No entanto, creio que não julgarei mal se disser que é uma comemoração, de certo modo, ensombrada. Ensombrada pela promessa de país que surgiu naquela madrugada e que ainda não se cumpriu. Julgo que não erro se disser que a alegria na comemoração não pode ser completa, porque há um certo travo amargo na boca, há algo que nos deixa de pé atrás. Eu acredito que esse algo se prende com o facto de assistirmos, por vezes impotentes, a essa promessa não cumprida, sabendo que temos tudo para a cumprir. Temos garra, temos inteligência, temos competência, temos sentimento, temos sabedoria acumulada, temos passado, temos identidade nacional, temos História. Então o que falta? Então porque é que nós, os jovens de hoje, nos deparamos com o terrível espectro de vivermos toda a nossa vida adulta, enquanto cidadãos deste país, debaixo de uma permanente crise, a ver o país enredar-se num ciclo de empobrecimento, a continuar a "tapar buracos" e não a construir os caminhos do futuro? Não tenho soluções mágicas, palavras de Aladino, mas tento encontrar algumas explicações que ajudem.
Há dias, ao passar numa livraria, deparei-me com um daqueles guias muito populares sobre cidades e países, que todos conhecemos, e vi um sobre Portugal, que era a tradução portuguesa do original. Tradução apenas, sem adaptação. Na parte da caracterização geral do país entre as várias informações, algumas erradas, outras exageradas, mas que de um modo geral davam uma visão positiva do país, se bem que a visão de um pequeno país desconhecido e espécie de estância de férias idílica, havia duas notas que me chamaram a atenção. Uma alertava os visitantes para que não levassem a mal os atrasos, dado que não significavam nenhum insulto, mas antes prática generalizada, e a outra referia que os simpáticos e hospitaleiros portugueses assumiam outra personalidade ao volante de um carro e faziam da condução perigosa um passatempo nacional. Estas duas pequeninas coisas (serão assim tão pequeninas?...) vistas pelo olhar de um estrangeiro, levam àquela explicação que eu gostava de adiantar sobre a tal promessa falhada, e resumem-se a duas palavras: ética e responsabilidade.
Infelizmente creio ser lugar comum em todos os aspectos da nossa vida em sociedade faltarem estas duas coisas essenciais: ética e responsabilidade. Seja na vida política, no relacionamento entre os cidadãos e o Estado, entre este e os cidadãos, nas relações económicas que os empresários estabelecem, na escola, no trabalho, na estrada e mesmo, às vezes, nas nossas relações pessoais. Julgo que há um certo gosto nacional na transgressão. Não nas pequenas pantominas como atravessar a passadeira com o sinal vermelho se não vierem carros, mas em coisas que por pequenas que sejam, multiplicadas por todos, levam a uma grande descridibilização das instituições, das empresas, do trabalho, enfim da vida em sociedade. Levam ao tal passatempo nacional atrás do volante que o guia falava e ao institucionalizar do atraso, que, no país de quem escreveu o tal guia, é considerado um insulto.
Está na altura de todos, praticarmos a nossa quota parte de ética e responsabilidade nas nossas vidas, de deixarmos de pregar bonitas palavras ao vento que passa, e de as incluirmos nas nossas atitudes. Acima de tudo, impende um especial dever sobre todos os responsáveis políticos (quando digo todos, é mesmo todos, desde o Presidente da Junta ao Presidente da República). A eles cabe-lhes dar o exemplo, e porque, cada um, dentro do seu papel, pequeno ou grande, conforma o destino do país, devem actuar sempre com a tal ética e responsabilidade. Ética porque governam o que é de todos e em nome desses todos, e responsabilidade, porque aquilo que decidem projecta-se no futuro do país.
Termino como comecei, a falar de juventude. E a falar de juventude, porque, 35 anos depois do 25 de Abril, 35 anos depois de uma geração política no poder, chegou a hora da juventude de hoje cumprir o Portugal prometido. O Portugal prometido e não cumprido, aquele que nos está atravessado na garganta. Temos um legado de 800 anos atrás de nós a respeitar. Um legado que não pode viver do passado, nem pode viver na mediocridade deste país sem solução dos últimos 35 anos. Um legado que se quer construir de futuro próspero e duradouro.
Que tem de se construir com ética e responsabilidade. Oxalá consigamos cumprir o desafio.
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